A sala multiuso e a cultura maker na educação representam uma transformação significativa na forma como concebemos os ambientes de aprendizagem contemporâneos. Esses espaços transcendem o conceito tradicional de sala de aula ao incorporarem flexibilidade, experimentação e o princípio do “aprender fazendo”.
A evolução das antigas “salas maker” para ambientes multiuso reflete uma compreensão mais ampla sobre como os estudantes desenvolvem competências através da experimentação prática, manipulação de materiais diversos e resolução de problemas concretos.
No contexto da educação básica atual, uma sala multiuso bem projetada funciona como catalisador do processo de aprendizagem, oferecendo suporte às metodologias ativas e estimulando o desenvolvimento integral dos estudantes.
Esses ambientes são especialmente valiosos por permitirem a integração entre diferentes disciplinas e habilidades, aspecto fundamental para atender às diretrizes da Base Nacional Comum Curricular (BNCC).
Fundamentos arquitetônicos para espaços maker funcionais
O planejamento arquitetônico de uma sala multiuso destinada a atividades maker requer compreensão técnica específica sobre diversos aspectos estruturais. A concepção desses espaços não pode ser improvisada, pois envolve decisões críticas relacionadas a:
Infraestrutura elétrica adaptável
O sistema elétrico deve contemplar pontos de energia distribuídos estrategicamente pelo ambiente, incluindo tomadas suspensas para áreas centrais e circuitos independentes que suportem equipamentos de diferentes potências simultaneamente. A previsão de canaletas aparentes ou sistemas de eletrocalhas permite modificações futuras sem intervenções estruturais complexas.
Tratamento acústico especializado
Como espaços onde a cultura maker se manifesta tendem a gerar ruídos diversos durante atividades práticas, o tratamento acústico merece atenção específica. Recomenda-se a instalação de painéis absorventes nas paredes e forros acústicos que reduzam a reverberação sonora. Divisórias móveis com propriedades acústicas também podem setorizar temporariamente o ambiente durante atividades simultâneas.
Sistemas de armazenamento integrados
O planejamento de mobiliário fixo e móvel para armazenamento de materiais e ferramentas é fundamental para o funcionamento adequado da sala multiuso.
As soluções devem considerar diferentes alturas de acesso para contemplar estudantes de todas as idades, sistemas de classificação visual de materiais e segurança para itens que exigem supervisão. Gavetas modulares, armários setorizados e nichos abertos compõem um sistema completo de organização.
Planejando o fluxo de trabalho na sala multiuso
A disposição espacial de uma sala multiuso que fomenta a cultura maker na educação deve considerar os diferentes fluxos de atividades que ocorrerão simultaneamente. O ambiente colaborativo se estabelece através de zonas funcionais bem definidas:
Área de concepção e planejamento
Espaço destinado à elaboração de projetos, com superfícies adequadas para desenho, esquematização e discussão em grupo. Essa área deve dispor de painéis para fixação de ideias e mesas que permitam diferentes configurações conforme a natureza da atividade.
Zona de prototipagem
Setor equipado com ferramentas e materiais para construção de modelos preliminares. O mobiliário deve ser resistente a impactos e modificações, com superfícies de trabalho que suportem cortes, perfurações e aplicação de adesivos sem comprometimento estrutural.
Espaço de testes e apresentação
Área destinada à experimentação dos protótipos desenvolvidos e apresentação dos resultados. Recomenda-se a instalação de superfícies neutras que permitam a documentação visual dos processos e resultados, além de sistemas de projeção integrados à arquitetura.
Materialidade e segurança: especificações técnicas essenciais
A seleção de materiais para uma sala multiuso onde se desenvolve o movimento maker nas escolas exige considerações específicas sobre durabilidade, manutenção e segurança:
Os revestimentos de piso devem combinar resistência mecânica com propriedades antiderrapantes, sendo recomendados pisos vinílicos em manta com especificação comercial de alto tráfego ou pisos em resina epóxi com acabamento fosco. Ambas soluções permitem demarcações cromáticas das diferentes áreas funcionais sem criar barreiras físicas.
Para superfícies de trabalho, recomenda-se chapas de compensado naval tratado com selador específico ou tampos em material fenólico, que resistem ao contato com água, solventes moderados e impactos recorrentes.
As bordas devem receber tratamento arredondado para evitar acidentes durante o intenso deslocamento que caracteriza o processo de ensino baseado no “mão na massa”.
Integração tecnológica e adaptabilidade pedagógica
Uma característica fundamental da sala multiuso contemporânea é sua capacidade de integrar recursos tecnológicos que ampliam as possibilidades da cultura maker na educação. Essa integração se manifesta através de:
Infraestrutura para documentação do processo criativo
Sistemas de captura e projeção de imagens permitem registrar cada etapa dos projetos desenvolvidos, transformando o fazer em objeto de reflexão posterior. Monitores distribuídos pelo espaço possibilitam demonstrações detalhadas de técnicas que exigem precisão.
Flexibilidade para reconfigurações espaciais
O mobiliário deve contemplar soluções móveis sobre rodízios com travas, permitindo reconfigurações rápidas conforme a atividade proposta. Sistemas de divisórias leves e translúcidas possibilitam setorizar temporariamente o espaço sem comprometer a supervisão visual necessária, especialmente na educação infantil e primeiros anos do ensino fundamental.
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A criação de uma sala multiuso que verdadeiramente incorpora a cultura maker não é apenas uma questão de adquirir equipamentos ou reorganizar mobiliário – é um projeto arquitetônico complexo que exige compreensão profunda das dinâmicas pedagógicas contemporâneas e conhecimento técnico especializado.
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